Morrendo pela boca

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      Edmundo, já meio incomodado por ter comido tanto manjar turco, sentiu-se ainda pior ao ouvir dizer que a dama da qual se tornara amigo era uma perigosa feiticeira. Mas, lá no fundo, o que mais desejava era voltar para fartar-se daquele maravilhoso manjar.
      — Mas quem é que lhe contou essa história toda?
      — O Sr. Tumnus, o fauno.
     — Fique sabendo que a gente não deve acreditar em tudo o que dizem os faunos — falou Edmundo, querendo mostrar que sabia muito mais do que Lúcia a respeito de faunos.
      — Quem foi que disse?
      — Todo o mundo sabe disso; pergunte a quem quiser. Mas o que não está nada bom é este frio. Vamos pra casa.
      — Pois vamos. Estou feliz por você ter vindo. Agora eles têm de acreditar. Vai ser engraçado...
      Edmundo achou que não seria tão engraçado para ele. Teria de confessar, perante os outros, que Lúcia estava certa, e é claro que Pedro e Susana tomariam logo o partido dos faunos e dos animais. E ele estava quase inteiramente do lado da feiticeira. Além disso, não sabia o que havia de dizer ou como guardar segredo, quando todos estivessem falando de Nárnia.
      Já tinham andado muito. De repente sentiram-se rodeados de casacos, em vez de ramos de árvores. Daí a pouco estavam na sala vazia.
      — Você está com uma cara horrível, Edmundo — disse Lúcia. — Está passando mal?
      — Estou me sentindo muito bem.
      Não era verdade. Estava mesmo passando mal.
      — Vamos ver onde estão Pedro e Susana. Temos muita coisa para contar...

(Extraído de As crônicas de Nárnia: O leão, a feiticeira e o guarda-roupas, de C.S. Lewis)


Sem dúvidas, a comida é algo que mexe com nossas entranhas (em todos os sentidos!). O trecho acima, retirado de As crônicas de Nárnia, me fez refletir em como aquilo que comemos pode ter um efeito nocivo sobre nós. Aquilo de que nos nutrimos pode determinar nossa boa ou má saúde.

Tenho um problema com alimentos derivados do leite. É, não posso abusar deles senão minha barriga reage mal e tenho de ir mais vezes ao banheiro do quê o costume (é nojento falar estas coisas, mas é necessário para nossa reflexão aqui). Por isso, preciso estar atento e equilibrar a quantidade de alimentos de origem láctea em minhas refeições. Sim, é um tanto chato não poder abusar do chocolate, do queijo e do leite sem ter fortes contrações intestinais, mas, infelizmente, meu organismo é assim e tenho de pensar no que é melhor para minha saúde.

Edmundo, personagem de As crônicas de Nárnia, no trecho acima, tinha acabado de deliciar-se com uma caixa inteira de manjar turco (um tipo de doce originado no Oriente Médio) que lhe foi dado pela Feiticeira Branca em troca de levar seus irmãos ao palácio da falsa rainha. Não, Edmundo não possuia intolerância à lactose e o manjar turco sequer leva leite. No entanto, ele abusou da comilança em dois sentidos: primeiro, porque comeu doce demais; em segundo lugar, porque ao se deixar levar unicamente pelo desejo de comer novamente o doce, sequer quis perceber a maldade da feiticeira ou refletir sobre as atitudes dela.

O prazer de comer pode nos levar ao descompasso. No meu caso, o prazer de comer chocolate ou de comer um super sanduíche com muito queijo pode me levar a ter problemas digestórios. No caso de Edmundo, o prazer de comer o manjar turco o levou a fechar os olhos para quem a Feiticeira Branca era e o levou a trair seus irmãos. A comida tem um propósito: nos nutrir. É claro que podemos sentir prazer com isso e fazer do ato de comer algo muito mais agradável. No entanto, a satisfação deve levar em conta aquilo que pode nos fazer bem ou mal. Existem alimentos mais saudáveis do quê outros e práticas alimentares mais adequadas do quê outras. Edmundo quase perdeu-se de vez por uma caixa de doce; algo delicioso, sem dúvidas, mas que não alimenta adequadamente o corpo.

Como cristão, seis que a Bíblia trata também de hábitos alimentares. Existe uma série de restrições gastronômicas para o povo de Israel no Antigo Testamento. No Novo Testamento, a alimentação muda de foco e há a preocupação de Paulo sobre a prática alimentar que pode fazer mal "à digestão espiritual" do meu próximo, passando de algo material para imaterial. No entanto, quero focar a reflexão em Cristo, que é o Pão da vida. Ele nos diz que sua palavra é verdadeira comida e bebida e, por isso, deveríamos nos alimentar dela, além disso, ele nos diz que a comida dEle é "fazer a vontade daquele que o enviou" e que o que contamina o homem não é a comida que ingere, mas o que é "vomitado" de seu coração. Tudo isso nos indica que existem formas de se alimentar espiritualmente e que esta nutrição espiritual é tão (ou mais) importante que a material.

Edmundo estava passando mal, não apenas pelo excesso de doce ingerido, mas, certamente, por já estar digerindo (o) mal contra seus irmãos. Ele já estava planejando como enganá-los para que os pudesse levar até a Feiticeira Branca e, assim, conseguir mais manjar turco. Mas Edmundo não é o único que se alimenta mal. Quantas vezes eu não tenho me alimentado de forma inadequada? Como pratos com laticínios em excesso e acabo passando mal; alimento desejos e pecados que fazem mal à minha saúde espiritual; deixo de me alimentar regularmente com o precioso Pão da vida... ou seja, morro pela boca!

Meu apetite, neste momento, é o de alimentar-me melhor: tanto fisica quanto espiritualmente. O que como fisicamente não me torna pecador ou não (no máximo, estou tratando mal o "Templo do Espírito"), mas posso estar digerindo o mal em meu ser apenas por deixar de alimentar-me do que é bom, bem, vida, amor, palavra de Deus. As coisas com que me ocupo ou faço (arte, trabalho, conversas, pensamentos, etc.) estão sempre alimentando meu espírito (bem ou mal). Quero que meu espírito esteja sempre bem nutrido e forte, bem alimentado de Deus, para que, ao fim, minhas palavras, atos e presença sejam, também, um pedacinho deste Pão que desceu do céu e alimente aos que estiverem à minha volta.

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