Jesus, verbo intransitivo


“Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
ai, palavras, ai, palavras,
sois de vento, ides no vento,
no vento que não retorna,
e, em tão rápida existência,
tudo se forma e transforma!
Sois de vento, ides no vento,
e quedais, com sorte nova!

Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Todo o sentido da vida
principia à vossa porta; [...]”

(Cecília Meireles, Romanceiro da Inconfidência, 1972)


     Essas duas primeiras estrofes do poema “Romance LIII ou DAS PALAVRAS AÉREAS”, de Cecília Meireles, representam muito bem a importância das palavras e a sua “potência” – tanto no que se refere à força de seus diversos sentidos quanto no que se refere à própria realização de suas possibilidades de passar de um estado de existência a outro (como quer a filosofia). Aqui temos duas informações em destaque; primeiro, as palavras produzem sentidos variados, por isso uma mesma palavra pode ter um número indeterminado de significados; segundo, as palavras são seres em potência, isto é, a palavra é a coisa (e/ou coisas) que representa. Desse modo, podemos dizer que a palavra tem um peso e uma força absurda, como, por exemplo nos julgamentos, nas cerimônias solenes e na proferição de bênçãos e maldições. Daí, o ditado popular “as palavras têm poder”, e expressões como “jogar praga”, uma vez que dita a palavra, a coisa é trazida à existência. 

     Agora, se isso é assim no campo das ideias – das filosofias e das artes – imagine a força e a existência da Palavra de Deus! E a Palavra de Deus é o próprio Jesus, pois Ele é o Verbo que estava no principio com Deus, e todas as coisas foram feitas por meio dele e sem Ele nada do que foi feito se fez! (João 1:1-3). Ou seja, Jesus é o Verbo – o logos (em grego λόγος, palavra) – que traz as coisas à existência e atua sobre elas de maneira sobrenatural e perfeita a ponto de trazer salvação e santificação à humanidade caída. 

     Num sentido gramatical, o verbo intransitivo é aquele que não precisa de complemento, pois tem sentido em si mesmo. Assim é o Senhor Jesus Cristo, Ele é o próprio Deus (“Eu e o Pai somos um.” João 10:30), portanto Ele é: “EU SOU O QUE SOU” Êxodo 3:14 e não há nada que possa ser tirado ou acrescentado a Ele. Ele é eterno (“Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, o primeiro e o derradeiro.” Apocalipse 22:13). 

     Já num sentido semântico, as palavras podem produzir vários sentidos. Jesus, porém, é único e o seu sentido não varia, pois nele não há imperfeição nem mutabilidade (‘Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.” Tiago 1:17; “Por isso, querendo Deus mostrar mais abundantemente a imutabilidade do seu conselho aos herdeiros da promessa, se interpôs com juramento;” Hebreus 6:17). Por outro lado, a palavra de Deus é “viva e eficaz” (Hebreus 4:12), criativa (Gênesis 1) e poderosa para realizar infinitas dádivas e milagres nas nossas vidas. Ele pode mudar a nossa tristeza em alegria e nos fazer totalmente transformados nEle pela salvação que há em seu nome “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.” (Atos 4:12). Pela sua palavra há cura: “E o centurião, respondendo, disse: Senhor, não sou digno de que entres debaixo do meu telhado, mas dize somente uma palavra, e o meu criado há de sarar.” Mateus 8:8; há libertação: “Então ele disse-lhe: Por essa palavra, vai; o demônio já saiu de tua filha.” Marcos 7:29. Enfim, a palavra de Deus, Jesus, é a própria vida (João 14:6)!

     Para muitas pessoas, essa afirmação parece absurda e infundada, de maneira que com incredulidade rejeitam a salvação em Cristo Jesus. Como também na literatura parece impossível conceber que uma palavra dê conta de vários sentidos ou que tenha sentido em si mesma sem que seja necessário considerar todo o contexto histórico-social que a envolve. Bem, o contexto é também importante, contudo, é a palavra que o evoca e o determina, não o contrário. Veja, o poema “pobre alimária”, de Oswald de Andrade, aparentemente não tem nenhuma ligação com luta de classes ou questões sociais desse tipo. Mas uma leitura atenta faz emergir do poema justamente essa situação, quando no trecho: O cavalo e a carroça / Estavam atravancados no trilho / E como o motorneiro se impacientasse / Desatravancaram o veículo (ANDRADE apud. SCHWARZ, 1987, p 14), o verbo “impacientasse” está no pretérito imperfeito do subjuntivo, que é um tempo verbal para eruditos, ou seja, quem fala é alguém com poder, por isso, na briga entre o “veículo” e a “carroça”, o veículo ganha, desatravancando a “carroça” do caminho e abrindo caminho para o progresso da cidade e para o crescimento cada vez maior das classes dominantes, de maneira que o poema evoca essa realidade através do arranjo das palavras. Porque o poema consegue dizer muita coisa com poucas palavras. 

     Talvez isso pareça loucura, viagem e uma coisa muito sem sentido para aqueles que não entendem de teoria e crítica literária, do mesmo modo quem não entende que a Palavra de Deus é a Verdade e que somente por Jesus podemos ter redenção e vida eterna, jamais desfrutará do gozo do Senhor, da sua Força, da sua Paz e de todos os sentidos que Ele quer dar a nossa vida. Sem Jesus o poema fica sem graça e a interpretação dele fica distante da nossa realidade. Para aqueles, no entanto, que creem que Jesus é a Palavra de Deus que se fez carne, que morreu e que ressuscitou por nós (“E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.” João 1:14), para estes o poema se torna amplo, colorido, cheio de sentido a partir da própria Palavra!

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