Como falar para si mesmo de si mesmo!


Não sou muito fã de espelhos, nem de retratos recentes... não acredito em oráculos, nem sei de cor todas as sabedorias da mitologia... só lembro que para sair do labirinto usa-se um fio... talvez sirva aquele agasalho de lã puxada... aquele que você vai desfazendo e, no final das contas, no conto, salva a sua vida...

Estou tentando me lembrar de outra saída pela direita das mitologias em quadrinho... ahh, a geringonça da medusa é vencida por um espelho... um daqueles que as índias, que não são da Índia, descobriram tarde demais pra ser verdade... quase uma puberdade cultural... agonia histórica...

Ler ou ser lido... escrever ou ser escrito... ver ou ser visto... desnudar ou ser despido... ser morto ou carpideira... dois pontos ou reticência atrasada... ...eu quero pôr tudo isso na balança... para que eu possa continuar a ser falado por mim mesmo... por mim mesmo... por mim mesmo enquanto 'poemo'... enquanto 'poesio'... enquanto 'escrivo'...

“Nosso amor-sete-vidas, sublime,
Envolto em casca banal de ansiedade
Não se permite esquecer pra lembrar.

É tanto abraço que temos exposto,
Como fratura, desgosto,
Não posso tocar sem largar.

E, quando adianta o aceno,
O faz tão pequeno, sem tchau,
Mesmo sinal pra voltar.

E eu não vejo porta, não vejo saída,
Nosso amor-sem-opção, amor-ferida,
Não me deixa ir sem ficar.

Nosso amor não sabe amar sem precisar”

Eu falando para mim

Comentários

  1. Que forma "grandiloquente" de iniciar postagens! (sempre quis usar esta palavra! huahauhauhau!)

    Nossa, que poema mais instigador e inquietante, Gigio. Estou aqui ruminando (no bom sentido) até agora e por um bom tempo...

    Muito bom! Me fez refletir sobre muitas coisas!

    Depois comento com mais propriedade.

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  2. Loucuras da madruga... rs... Meu filho, o seu comentário vale por dez, né? O cara é super-hiper-mega-ultra-'grandiloquente'... hauahkauahka das Letras! Inze! Abraço! Prazer em participar deste blog.

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  3. Estou aquém deste nível de reflexão. Pensaria melhor a respeito dela se estivesse em papel e tinta. Vou imprimir uma cópia pra mim. Refletirei mais tarde. Parabéns por estrear no blog.

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  4. Seu poema me remeteu à obra "Os quatro amores", de C. S. Lewis.

    (Vão começar a me achar um "C.S. Lewis Freak", de tanto citá-lo; o pior é que eu acho que ele me roubou todas as ideias e eu fiquei aqui a imitá-lo. Mas tenho a esperança de superá-lo um dia!)

    Bem, logo no começo do livro ele estipula dois tipos de manifestações para o amor: o amor-doação e o amor-necessidade, ou seja, o amor que se dá e o amor que precisa em relação ao outro. Vi isso no poema (até mesmo de forma evidente no último verso). Lembrei-me também de Santo Agostinho e de suas "Confissões". Em que ele trata de memória, como algo inseparável do esquecimento: só lembra quem esquece e só esquece quem lembrou.

    Acho que por causa de nossa natureza ambígua (mais um conceito do Mestre Lewis!) até o amor em nós se manifesta nesta duplicidade de sentimentos e ações. A duplicidade está bem posta e exposta no poema: espelho, opostos, labirinto, oráculos e mitologias (futuro e passado). Elos de uma mesma corrente que nos constitui e que nos torna mais que um.

    Já dizia Paulo de nossa luta: "carne contra espírito e espírito contra carne"; ansiedade contra sublimidade e vice-versa. E quantas vezes não nos vemos "outro" irreconhecível? Ou tão múltiplo que já não sou "eu", mas nós (voz que permeia o discurso do "eu-lírico")?

    E só no diálogo com estes "vários eu", esse "falar de si mesmo para si mesmo" é que tentamos nos manter em equilíbrio (na balança). E é através da arte (em que "poemo", "poesio", "escrivo") que posso melhor me compreender, mesmo em meus desencontros ou desvios (até através de desvios gramaticais!).

    Por isso, precisamos de mais cristãos fazendo arte (pintando o sete!). Para nos ajudar a refletir criticamente sobre nosso próprio "ser", no ser cristão e no ser de Cristo. Não precisamos escrever "Jesus" em cada verso de um poema, só precisamos escrever pensando no ser de nós em Cristo e, sinceramente, refletir seus ensinamentos.

    (Bem, fico por aqui. Pois não farei uma crítica realmente acadêmica. Prefiro apreciar e ler novamente!)

    Muito bom Gigio! Poder fazer uma leitura literária permeada pelos princípios cristãos é um privilégio que você me permitiu! Muito obrigado pela reflexão!

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Meu caro, sou eu quem agradece pela sensibilidade. E esse grau de empatia é difícil, hein? Parabéns! Tudo bem que a crítica foi tão profunda que eu me senti nu (não vou mostrar os outros poemas huahkauhakuahkuaa), mas é um privilégio estar aqui, estar 'escritor' nesse blog... Ah, e para o Hugo: relaxe, aproprie-se do poema; ele é você falando de si mesmo. rsrs Abraços, senhores brilhantes!

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