Unodecisões (2/3)



Tomar decisões é difícil. Princípios e diretrizes facilitam a compreender racionalmente qual a melhor decisão, mas existem aspectos subjetivos na tomada de decisão e nem tudo se resume à objetividade e racionalidade. Acho que, em questões emocionais, cada caso e situação são específicos e não existe solução fácil quando as escolhas envolvem vínculos afetivos. Partindo desse pressuposto, penso que a segunda decisão "solitária" é de cunho emocional. É a decisão de relacionar-se eroticamente (significando aqui o amor "eros", como C. S. Lewis já definiu bem no livro "Os Quatro Amores"). Não sou especialista no assunto. Na verdade, só tive um relacionamento: um namoro de 5 anos, que acabou. No entanto, parto do princípio que meus leitores, assim como eu, desejam refletir sobre como escolher bem um par, uma companhia, ou um cônjuge. O que tentarei fazer é discutir sobre alguns aspectos envolvidos na escolha de um companheiro ou companheira.

Nossos pais, parentes e amigos, muitas vezes, palpitam na tomada dessa decisão. Eles se preocupam com nosso bem-estar, com nossa felicidade e alegria e, Graças a Deus por isso, interferem em nossas vidas. Mas, por mais que se esforcem, por mais que os convidemos a participar dessa escolha, o campo da afetividade é restrito a nós mesmos. Ninguém é capaz de saber (por mais que falemos ou expliquemos) exatamente como nos sentimos. Tampouco é fácil transformar em palavras o motivo de você gostar de "fulano" e não de "sicrano". São coisas que acontecem em nossa subjetividade e envolvem muitas coisas ainda desconhecidas. Daí que, quanto a isto, só podemos tomar decisões baseados naquilo que vivemos e sentimos, tentando se valer, da melhor forma possível, de diretrizes que facilitem a escolha.

A principal diretriz para a tomada dessa decisão é o amor. Não se deve brincar com os sentimentos de ninguém, nem se propor a participar de um relacionamento sério se você não quiser assumir o compromisso e fidelidade que isto exige. Amar demanda trabalho, esforço e dedicação. O amor não é como capim que cresce e aparece da noite para o dia sem que ninguém plante ou cuide; está mais para uma planta delicada que demanda cuidados, poda, adubo, etc. Sem esta disposição de amar, qualquer tentativa séria de se relacionar está fadada ao acaso, ao deus-dará, aos impulsos emocionais que surgirem.

Quando nos interessamos por alguém, normalmente, essa pessoa nos desperta sentimentos e desejos que nem sabemos explicar, mas que gostamos de experimentar. A sensação de estar junto é boa e nos sentimos bem em conversar ou compartilhar momentos. Parece que o outro nos entende de um modo especial que traduz o que pensamos ou sentimos de forma mais clara. Infelizmente (sim, infelizmente mesmo), isso não basta. O cristão também precisa considerar a afinidade entre ideias e princípios do/a companheiro/a. Algo importante para um bom relacionamento é que haja concordância, no geral, entre os pares, pois com o tempo e a intimidade o outro vai se tornando cada vez mais claro, para o bem ou para o mal. Quando nos apaixonamos, temos a tendência a não reparar nas diferenças, só nas afinidades. É importante, desde o início, conversar bastante para "acertar o passo", chegar a consensos ou simplesmente descobrir que as diferenças são maiores que as similitudes.

A história de Beren e Lúthien mostra um pouco disso. Um homem (Beren), que era mortal, apaixonou-se por uma elfa (Lúthien), imortal, que também se apaixonou por ele. A tendência de ser um relacionamento frustrado (que Thingol, pai de Lúthien, percebeu) era grande. um dia Beren morreria e Lúthien ficaria só. Mas, após muitos (e foram muitos mesmo) encontros e desencontros, como parte maravilhosa desta história tão bela, foi concedida uma escolha à elfa: Lúthien renunciou a imortalidade, separando-se assim do "destino" de sua família élfica, para viver mortalmente com Beren uma nova vida mortal.

As vezes, decisões assim serão necessárias. Decisões que podem contrariar o que nossos pais, amigos e colegas esperam de nós. Quando encontramos alguém com quem nos identificamos, que parece caminhar na mesma trilha que nós e que está disposto/a a dividir os pesos da caminhada, a ser verdadeiro/a companheiro/a, ou seja, "aquele que come pão junto" (participa do cotidiano do outro), vale a pena investir no relacionamento. Quando ambos estão dispostos a decidir serem "um" (no sentido de serem inseparáveis, um todo, e não do coito) as diferenças serão tratadas processualmente, pela disposição mútua e pela Graça e o Amor de Jesus. "Homem e mulher os criou", diz a Bíblia, e que "Deus viu que era bom" que homem e mulher estivessem juntos. Ele sabe que precisamos de companhia e se preocupa com isso também. No fim, esse é o principal: saber que Deus se importa com todas as nossas necessidades, mesmo a de encontrar uma "costela perdida".

Comentários

  1. Muito bom seu post Wesslen. Gostei muito da comparação do amor a uma flor delicada, e não ao capim, simples e profundo. Também concordo que a paixão cega. Certa vez li o seguinte apontamento: "A paixão só vê as qualidades, e o ódio, apenas os defeitos, mas o amor enxerga ambos", realmente algo para se refletir.

    Também penso, seguindo a linha de pensamento do Senhor Pedro, companheiro de curso do TJ(caso eu tenha omitido algo, TJ, por favor me corrija), não será agradável conviver com alguém que não compartilha de seus princípios e visão de mundo, será uma vida a sentir perturbações na força. Por isso concordo com você, Wesslen, que tempo, diálogo e sinceridade são essenciais nessa escolha. I'm waiting for the next one!!!

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  2. Hum... Penso que minha opinião é a de maior peso quando se trata deste assunto... Moahaha! Afinal, da Fraternidade, eu sou o único casado. E com toda certeza o que mais experiências teve no assunto (infelizmente ou não).
    Excelente e necessário post, caro frater!
    Quero aproveitar para comentar algo muito importante sobre a escolha da companhia. É a "escolha" em si mesma. Para alguns, essa escolha não é feita por si mesmo mas, por Deus ou pelo destino ou até mesmo por uma vida passada (piada). Sinto informar que a coisa não funciona assim. A escolha é nossa, toda nossa, de fato, uma unodecisão. Caso o contrário, se um relacionamento desse errado teríamos alguém além de nós mesmos para culpar. Acredito que Deus nos apresenta pessoas, mas a decisão é nossa sobre quem será a escolhida. Devemos portanto escolher sabiamente, baseando nossa decisão nos critérios corretos que encontram-se nas Sagradas Letras e depois nas preferências pessoais.

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  3. Pois é, fraters! Ótimas complementações de meu post! Não esperava menos de Jedi Masters, Capitães interestelares, Maiar de Valinor, Reis de Nárnia, Anomalias da Matrix e Superamigos!

    Diálogo é muito importante. Sem, ao menos, disposição para conversar e resolver conflitos, tudo fica mais difícil. O que tenho visto é pessoas esperarem que os problemas afetivos se resolvam com o passar do tempo, por passe de mágica, sem qualquer decisão, ação, intenção, etc. That's a trap!

    Não funciona assim. Isso só irá gerar frustração, pois a tendência é que o relacionamento se desgaste e acabe. O fato é que se não houver decisão em investir e desenvolver o relacionamento, nada ocorrerá como queremos. Temos o privilégio de ter consciência e livre-arbítrio, que nos ajuda a entender nossa situação e a atuar de forma a mudar as coisas.

    Sobre a "escolha", isso é, de fato, o "x" da questão. Achamos, em nossa imaturidade, que amor é algo que iremos sentir por outra pessoa independente de nossa escolha. Grande erro. Isso seria a paixão. O amor é a possibilidade de, rompendo com os impulsos naturais, relacionar-se com o outro de forma não lógica. No sentido de que seremos capazes até mesmo de perdoar erros e falhas, de desejar e fazer o bem a quem nos detesta e de considerar os outros mais importantes que nós mesmos. O amor de Deus atua no rompimento da causa-efeito natural em nós (pagar mal com mal, não perdoar quem nos feriu, sermos o centro de nosso universo).

    Não adianta, sequer, saber isso. É preciso deixar que Deus atue em nós quebrando essa lógica da "natureza caída" que temos. Acredito que em termos gerais essa é a essência do evangelho de Cristo, que abrange todas as áreas de nossa vida, inclusive a amorosa. E deixar Deus agir é, primeiramente, obedecer seus mandamentos (amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo).

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  4. De fato!

    Concordo em tudo Wesslen, realmente penso q seja por aí. E concordo que não é uma escolha puramente racional, onde existe um padrão que se busca, e vc encontra alguém assim e inicia um relacionamento.

    Acho que o relacionamento deve passar pelas 3 esferas, o corpo (atração física, compatibilidade), a alma (o lado emocional, os sentimentos mútuos), e o espírito (pessoa cristã, crente em Jesus, que pauta sua vida pela Palavra de Deus).

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  5. Continuando...

    Penso que escolher baseado em apenas uma área não dá certo. Tipo, namorar só pq a pessoa é muito crente, mas fisicamente não agrada...Ou namorar por conta dos sentimentos, a famosa paixão, mas a pessoa não tem caráter, etc...Ou gostar muito da pessoa, mas ela não quer saber de Deus...

    Penso que o relacionamento precisa ser pleno, no sentido de que ambos os envolvidos precisam se completar, se satisfazer, se divertir (já tô pensando em termos de matrimônio, já que o cristão namora pensando no futuro).

    São minhas impressões sobre o assunto...

    Abraços!
    Graça e Paz!

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  6. Grande TJ!!!!

    Muito bom seu comentário! Melhor que minha postagem! Levarei suas observações muito a sério e levarei em consideração suas palavras quando for fazer uma escolha deste tipo. Como diria a "Dama Verde" de Perelandra, de C. S. Lewis: "Você me tornou mais velho!".

    Muito obrigado por suas considerações, mestre. Irei refletir e me utilizar delas!

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