Vivo ou morto?


Já faz alguns anos que assisti pela primeira vez a série de TV Band Of Brothers, do canal HBO. O programa trata de um grupo de soldados da 101ª divisão aerotransportada do Exército americano durante a Segunda Guerra Mundial, a compania Easy. Os homens da Easy Company saltaram de pára-quedas no dia D (6/6/44) e até a rendição alemã (8/5/45) estiveram no campo de batalha, enfrentando as batalhas mais duras da frente ocidental. Band Of Brothers chamou minha atenção por diversos motivos, entre os quais destacam-se o fato de ser baseada em fatos reais, os efeitos especiais, a qualidade da produção, os detalhes históricos, etc. Também me chamou atenção uma certa cena, e a reflexão que fiz dela, baseado na Bíblia. É disto que quero tratar neste post.

Em um dos episódios, especificamente o 3º, nos deparamos com dois personagens diametralmente opostos. O soldado Albert Blithe e o tenente Ronald Speirs. Enquanto Speirs torna-se figura folclórica por sua valentia e atos de bravura, ainda durante a campanha da França, Blithe é medroso e inseguro. Durante as missões de combate ele se esconde, chegando a sofrer uma cegueira histérica, num dado momento. Já Speirs é uma lenda, alguém de quem todos falam, sobre o qual já pairam rumores e histórias. O ponto alto do episódio foi, pra mim, o encontro entre os dois, e o breve diálogo travado por eles.
Não lembro com exatidão as palavras trocadas por eles, mas a parte mais importante é quando Speirs diz a Blithe: "sabe por que você não consegue lutar? Sabe por que você não consegue fazer o que é preciso? É porque você ainda tem chances de voltar pra casa. Ainda tem esperanças de voltar para a sua vida. Você só vai conseguir ser um soldado de verdade quando perceber a verdade." Ao que Blithe pergunta: "Qual verdade?" E Speirs responde: "Não há esperança. Todos estamos mortos."

Ao ouvir o referido diálogo, lembrei-me quase que instantaneamente de uma passagem bíblica, que se encontra na segunda epístola aos coríntios. Paulo escreve: "Porque o amor de Cristo nos constrange; julgando nós assim: que se um morreu por todos, logo todos morreram. E Ele morreu por todos para que os que agora vivem, não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressucitou". (2Cor 5:14,15).
O cristão foi comprado por Jesus, sua vida não pertence mais a ele, mas àquele que morreu na cruz por ele. De modo que muitas vezes o cristão está em um contexto de guerra espiritual, mas fica igual ao Blithe, apegado à velha vida, ao mundo que ficou pra trás. Assim ele não consegue lutar. Não se deu conta de que morreu pro mundo, pra a velha vida, que agora sua vida não é mais sua.
Quem está em Cristo é nova criatura, as coisas velhas já passaram, tudo se fez novo (2Co 5:17). Não há espaço pra retrocesso. Jesus disse: "quem quiser salvar a sua vida a perderá, quem perder a sua vida por amor de mim a salvará" (Lc 9:24).

Na vida cristã as coisas acontecem de maneira curiosa. É dando que se recebe, é perdendo que se ganha. É morrendo para o mundo que se vive para Deus. Esta é a melhor coisa que pode acontecer ao ser humano. Nascer de novo, entregar a vida a Jesus, voltar ao caminho, ao propósito de sua criação. Aí existe plenitude.

Vale dizer que o Blithe, depois de ouvir o conselho do Speirs, e assumir a postura adequada à situação de guerra, se torna um grande guerreiro, o primeiro nas missões de risco. Quando cai a ficha, da real condição dele, ele entende sua situação e faz o que tem que fazer. É isso que acontece com o cristão que tem consciência de quem é, e da sua situação espiritual.

Graça e Paz!
Abraços!!!

Comentários

  1. Mestre TJ!

    Já lhe disse que gosto bastante de seus posts? É verdade, gosto muito de seus textos. Bem escritos, bem articulados e sempre trazendo algo prático e sábio para nossa vida cristã. Este é o TJ!

    Meu irmão, muito importante colocar este ponto sobre "morrermos para o mundo para vivermos para Deus". Confesso que às vezes até esqueço disso: é preciso sempre lembrar! Vivemos em uma rotina de vida que nos faz nos ocupar e nos envolver com as coisas desse mundo e nos impede de nos ocupar mais plenamente do que realmente importa: nosso relacionamento com Deus. Teremos que nos ocupar de coisas daqui (trabalhar, comer, dormir, casar, etc.) mas não podemos fazer dessas coisas o principal.

    Como o soldado que você mencionou, sabemos que "estamos mortos", mas até lá vamos lutar cada batalha e fazer o que for posto em nossas mãos da melhor maneira, pois até isso é parte da convicção de que já morremos. "Os mortos não tem medo de nada", já me disse o Brother Mestre Mazkir. Zumbis não tem medo de morrer, pois já estão mortos! (Daí a música do Audio Adrenaline: Some kind of zombie). Mortos para o mundo podemos viver plenamente para Deus, mesmo ainda presos à existência. Este paradoxo cristão (como tantos outros) é parte da maravilhosa Graça de Deus que nos criou corpo, alma e espírito e deseja plenificar casa aspecto desses.

    Que a Graça, a Paz e a Sabedoria de Cristo continuem abundantes em sua vida!

    Abração!

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  2. Irmão, valeu pelos elogios!

    De fato, na ocasião que assisti a esse episódio e tiver essa sacada, compartilhei com os irmãos da igreja.
    Valeu pelo comentário sempre enriquecedor!

    Graça e Paz!

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  3. Lembro-me muito bem de quando fui privilegiado com essa reflexão. Realmente foi uma benção, e por várias vezes encontrei-me refletindo sobre isso. Fantástico!!

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