Metodologia da vida? Uma humilde reflexão


Fui questionado sobre as possíveis relações e a utilidade de conhecimentos de avaliação crítica da metodologia da literatura científica dentro de nossas relações cotidianas e fiquei deveras intrigado. Seria possível conseguir relacionar uma avaliação meramente técnica com algo tão particular, variável e subjetivo como as relações humanas? Bem sei que há vários teóricos da área com estudos específicos e de natureza diversificada sobre o tema, mas minha proposta é adequar os conhecimentos da metodologia científica em saúde com nossos relacionamentos. Ainda ao refletir de forma superficial, chamaram-me atenção três aspectos básicos da metodologia.

Em primeiro, ao proceder a leitura de um artigo científico no intuito de avaliar sua qualidade, nunca devemos dar valor apenas ao nome de quem realizou a pesquisa/estudo, ou seja, não importa "quem" é o autor (seja renomado ou desconhecido, ostente diversos títulos acadêmicos ou não). Em segundo, não devemos considerar também a instituição de origem do pesquisador, pois a inferência de que estudos realizados em centros de ensino ditos de melhor "qualidade" apenas produzem estudos de "qualidade" é inválida e equivocada, assim como a conclusão de que instituições sem "prestígio" apenas produzem estudos de má-qualidade também. De igual modo, e em terceiro lugar, não devemos observar o periódico onde o estudo foi publicado como uma referência da qualidade do artigo em questão, uma vez que foi/é/será possível encontrar estudos de má-qualidade em periódicos renomados ou não. O saldo é: o importante é avaliar a obra e a sua utilidade, relevância e aplicabilidade. Se o estudo for de qualidade, uma avaliação crítica (do pesquisador renomado, da instituição conceituada e do periódico de destaque) apenas confirmará que o estudo é de qualidade permitindo o uso de suas informações na prática clínica.

Eis então uma relação: em nossos relacionamentos não devemos nos importar, inicialmente, com a aparência do outro (vestimenta/hábitos e costumes/personalidade), com a sua origem (cultural/econômica/religiosa) ou levar em conta julgamentos de terceiros (colegas/amigos/parentes). Sim, eu sei. Básico e elementar. É o antigo conceito de não julgar o livro pela capa. Vamos seguir...

João 4.5-9
"Foi, pois, a uma cidade de Samaria, chamada Sicar, junto da herdade que Jacó tinha dado a seu filho José. E estava ali a fonte de Jacó. Jesus, pois, cansado do caminho, assentou-se assim junto da fonte. Era isto quase à hora sexta. Veio uma mulher de Samaria tirar água. Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber. Porque os seus discípulos tinham ido à cidade comprar comida. Disse-lhe, pois, a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana? (porque os judeus não se comunicam com os samaritanos)."

Não sei se ficou claro, mas os princípios que apresentei para avaliação possuem uma característica não intencional de fornecer o benefício da dúvida a estudos que aparentemente seriam de má-qualidade e o malefício da dúvida a estudos que aparentemente seriam de boa qualidade. Tais princípios não poderiam ser considerados de igualdade, portanto, mas sim de equidade. Esta funcionalidade na pesquisa pode ser considerada não intencional, no entanto o seu uso possui propósito em nossa vida. Consiste em duvidar, inicialmente, daquilo que aparenta ser bom e permitir avaliar aquilo que aparentemente é ruim. Confuso, eu sei, mas com um fundo de sensatez. Deve ser lembrado que a finalidade é sempre permitir uma avaliação justa das pesquisas científicas como forma de encontrar estudos de qualidade e de igual modo permitirá uma avaliação justa de relacionamentos, permitindo preservar-nos de desilusões e enganos. Faço apenas um destaque para uma avaliação justa. Não adianta nada utilizar estes princípios se a avaliação for tendenciosa (é, em verdade uma negação do princípio).

João 4.16-18.
"Disse-lhe Jesus: Vai, chama o teu marido, e vem cá. A mulher respondeu, e disse: Não tenho marido. Disse-lhe Jesus: Disseste bem: Não tenho marido;Porque tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade".

Se entender e concordar com o não julgar pela aparência, preciso também não julgar pelo histórico do meu próximo. Mesmo um artigo de "má-qualidade" pode possuir aspectos úteis ao leitor e de igual modo podemos afirmar que mesmo pessoas que aos olhos do mundo não possuem valor possuem plenas condições de serem úteis ao meio onde estão inseridas. Por meio da mulher samaritana, alguém com quem um judeu não deveria falar, muitos samaritanos foram salvos (Jo 4.39 E muitos dos samaritanos daquela cidade creram nele, pela palavra da mulher, que testificou: Disse-me tudo quanto tenho feito).

Mais do que necessário é reforçar um aspecto. Os presentes princípios, embasados pela Palavra do Senhor e pela metodologia científica, possuem uma questão fundamental. Em uma pesquisa tudo deve ser direcionado no sentido de evitar tendenciocidades e em nossa vida devemos sempre primar pela idoneidade das intenções. Explico: permitir conhecer alguém que aparentemente não tenha nada em comum é diferente de encontrar qualidades a todo custo (e vice-versa). A utilização desta visão deve ser meta, mas faz-se necessário utilizar maturidade. Não há como misturar luz com trevas e esta não é a proposta que apresento. Antes, acredito que a luz deve superar as trevas.

Por fim desta primeira conversa, deixo o fundamento que reforça o pequeno valor desta brincadeira metodológica:
Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo (Colossenses 2.8). Utilizem de criticidade e isenção nos comentários ;)

ps1: Sugestão de leitura: João 4
ps2: a intenção era ser sucinto, mas a verdade é que tinha mais coisas a comentar ainda e parei por estender muito além do meu objetivo inicial hehehehe

Comentários

  1. Grande Master Porfírio!

    Interessantíssimo o artigo e especialmente útil a nossos dias. Para o cristão, utilizar-se de parcialidade (ou tendencialidade) no relacionamento com o próximo, seja entre os próprios cristãos seja com os não cristãos, é agir contra o que o mestre ensinou: amar o próximo como a si mesmo.

    Ora, se nos amamos mesmo conhecendo "a qualidade de nossa informação", ou seja, conhecendo quem somos (e toda fraqueza que temos), então, não temos motivo para ser tendenciosos ou julgar os outros por suas externalidades.

    Talvez, para quem lê este post após ter lido o anterior (A convicção cristã em tempos de Cultura da Dúvida) pode pensar que há incoerência entre as ideias apresentadas: neste, a dúvida como fundamental para a atitude cristã; naquele, a certeza como inerente ao cristão. E agora, ideias contrárias e excludentes? Não, pelo contrário.

    Acho que este tópico de Master Porfírio só reforça o dito no post anterior: o cristão possui certezas, mas essas certezas não são imediatas, são fruto da busca de respostas. Assim, é apenas através do benefício da dúvida, inicialmente (pergunta), que poderemos desenvolver a convivência e o relacionamento necessários para descobrir um pouco de quem as pessoas são (resposta).

    Duvidar por duvidar seria nunca acreditar nas potencialidades das pessoas e assim tratar a todos com parcialidade, em relação a si mesmo (algo cada vez mais comum na sociedade líquida e diluidora em que vivemos).

    O Amor de Cristo em nós engloba e abraça todos. A começar em mim e expandindo-se em círculos concêntricos a todos a nossa volta. Quanto mais caminhamos no evangelho, maior o círculo de amor se torna até o ponto de ser sol e lançar luz por vários planetas ao redor.

    Este tema (o de não julgar o próximo) é extremamente relevante para nós, cristãos. Pois abrange o pleno reconhecimento de que não somos um "bom artigo científico" e que, por isso, devemos aceitar com amor aqueles que Deus coloca em nosso caminho.

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  2. Comentário perfeito!! Interpretação excelente. Achei relacionar a metodologia com nossa vida bem intrigante e um desafio válido. Vou tentar extrapolar os princípios base em breve, mas vou caminhar conforme a inspiração apareça e os tema do grupo tornem este tipo de análise pertinente =)
    Fico feliz que tenha gostado e entendido minhas humildes palavras, nobre WesMaster

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  3. Fantástico!!! Conheci algumas pessoas cujo exercício da crítica científica aguçou sua capacidade de analisar o futuro do desenvolvimento científico e o rumo da vida social mundiais, mas por carecer desta sua visão nunca puderam por isso em pratica nos seus relacionamentos; nos pequenos, e até mesmo íntimos, círculos sociais dos quais participa, ou seja, é excelente ouvir a opinião destas pessoas, mas é uma luta compartilhar do mesmo espaço com elas. Muito bom master Porfírio, vou guardar esse seu post para argumentar com pessoas assim, que daqui por diante venha a encontrar.

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  4. Muito legal!

    Muito bem escrito, muito pertinente! Parabéns!!!

    Graça e paz irmão!

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